O vice-presidente Hamilton Mourão responsabilizou em artigo publicado nesta quinta-feira no jornal O Estado de S. Paulo a imprensa, os governadores de estado e os integrantes dos demais Poderes da República pelo que chamou de "estrago institucional" que, na visão dele, "está levando o país ao caos".
Para o vice, que é general da reserva do Exército, a imprensa contribui com a polarização existente na política brasileira, que ele chama de "praga", "pois se radicaliza por tudo".
"A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação", escreveu Mourão.
"Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia."
O presidente Jair Bolsonaro ataca a imprensa constantemente, assim como frequentemente também incita seus apoiadores a xingarem jornalistas que aguardam sua saída em frente ao Palácio da Alvorada todas as manhãs. Recentemente, o presidente mandou um jornalista calar a boca.
Em seu artigo, o vice-presidente também criticou "governadores, magistrados e legisladores", a quem responsabiliza pela "degradação do conhecimento político". Para Mourão, governadores, parlamentares e juízes "esquecem que o Brasil não é uma confederação, mas uma federação".
Bolsonaro tem criticado governadores que adotaram medidas de isolamento social, como o fechamento do comércio não essencial, para frear a disseminação do coronavírus, que já matou mais de 13 mil pessoas no país.
Decisão unânime do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a autonomia de Estados e municípios para determinarem medidas de distanciamento social, contrariando o presidente, que já minimizou a Covid-19 chamando-a de "gripezinha" e tem afirmado que rivais políticos querem colocar sob sua responsabilidade a debacle econômica que deve ocorrer como consequência da pandemia.
Em seu artigo, Mourão também reclama do que chama de "usurpação das prerrogativas do Poder Executivo". Recentemente, Bolsonaro atacou duramente decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que barrou em liminar a nomeação do chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, para o comando da Polícia Federal.
Moraes viu indícios de desvio na finalidade pelo fato de Ramagem ser próximo da família Bolsonaro e citou que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, ao anunciar sua demissão do cargo, disse que o presidente queria colocar na PF alguém de sua confiança e que lhe passasse informações do órgão.
Por fim, Mourão aponta ainda no artigo "o prejuízo à imagem do Brasil no exterior decorrente das manifestações de personalidades que, tendo exercido funções de relevância em administrações anteriores, por se sentirem desprestigiados ou simplesmente inconformados com o governo democraticamente eleito em outubro de 2018, usam seu prestígio para fazer apressadas ilações".
O vice reclama especificamente de declarações de ex-autoridades sobre a forma como o governo Bolsonaro lida com a questão ambiental, especificamente o aumento do desmatamento e das queimadas na floresta amazônica.
"Esses pontos resumem uma situação grave, mas não insuperável, desde que haja um mínimo de sensibilidade das mais altas autoridades do país", afirma Mourão, que critica ainda as medidas de isolamento social adotadas por governos locais, afirmando que elas foram "desordenadas" e geraram paralisação da economia.
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Fonte: Terra