A cantora paraibana Myra Maia denunciou, nesta terça-feira (13), o uso indevido de um vídeo na campanha do candidato a prefeito de João Pessoa Ricardo Coutinho (PSB). O vídeo seria da campanha de 2008 e estaria sendo utilizado neste ano sem autorização dos participantes, disse a artista.
“Naquela ocasião, assinei um documento autorizando o uso do meu direito de imagem, especifica e taxativamente, para aquela produção de campanha”, declarou.
Ela disse que a divulgação do vídeo teria o propósito de criar ‘falsa narrativa’ e desrespeita os colegas que participaram do ato.
“Com o claro objetivo de criar falsa narrativa de meu apoio ao candidato em questão, num total desrespeito a mim e aos meus colegas, alguns dos quais presentes no vídeo, sequer estão mais entre nós, como a querida escritora Dôra Limeira e o meu saudoso amigo baterista, Lalo Miguel”, declarou.
Myra ainda pontuou que não apoia a candidatura de Ricardo: “Por esta razão, venho informar aos meus amigos, familiares, fãs, seguidores, colaboradores, patrocinadores, imprensa e a quem possa interessar que eu NÃO APOIO A CANDIDATURA DO SENHOR RICARDO COUTINHO, exclusivamente, por quebra de confiança”.
Leia a nota na íntegra:
‘FAKE NEWS É CRIME – COMUNICADO PÚBLICO
Desde o dia de ontem, tenho sido contatada por várias pessoas sobre minha posição nas eleições deste ano aqui na minha cidade. Como não declarei apoio (nem irei declarar, até porque o voto é secreto), perguntei o porquê daqueles questionamentos, foi quando descobri se tratar da circulação de um vídeo referente a campanha de 2008, ou seja, há exatos 12 anos, onde participo, junto a outros colegas artistas da cidade de João Pessoa, de um clipe em apoio a Ricardo Coutinho e Luciano Agra, respectivamente, candidatos a prefeito e a vice prefeito no pleito em questão.
Naquela ocasião, assinei um documento autorizando o uso do meu direito de imagem, especifica e taxativamente, para aquela produção de campanha. Pois, na época, entendia ser interessante renovar o modelo de gestão que deu espaço para a cena cultural, e também, por que meu amigo Luciano Agra (in memorian), havia gentilmente me convidado.
Agora, sou tomada de grande surpresa pela reutilização – indevida, diga-se de passagem – do mesmo vídeo para fins eleitorais na campanha do Senhor Ricardo Coutinho na eleição municipal deste ano. Com o claro objetivo de criar falsa narrativa de meu apoio ao candidato em questão, num total desrespeito a mim e aos meus colegas, alguns dos quais presentes no vídeo, sequer estão mais entre nós, como a querida escritora Dôra Limeira e o meu saudoso amigo baterista, Lalo Miguel.
Segundo me informaram, o vídeo está sendo amplamente divulgado em grupos de whatsapp há mais de um mês e ontem foi repercutido no instagram do ex-secretário executivo de comunicação do governo estadual, o jornalista Tião Lucena, que é colaborador da campanha do referido candidato.
Por esta razão, venho informar aos meus amigos, familiares, fãs, seguidores, colaboradores, patrocinadores, imprensa e a quem possa interessar que eu NÃO APOIO A CANDIDATURA DO SENHOR RICARDO COUTINHO, exclusivamente, por quebra de confiança.
Primeiramente, enquanto cidadã e enfermeira formada, especialista em Centro Cirúrgico, atuante por vários anos na área, entendo ser inviolável e até sagrado o direito à saúde, de maneira que me sinto constrangida com a presença deste senhor no atual processo eleitoral, depois que tomamos conhecimento por meio de delações de seus próprios secretários e gravações com sua própria voz, negociando ingressos de shows e propinas milionárias, desviadas de verbas da saúde do nosso estado. Acho inadmissível que este senhor possa estar concorrendo ao cargo de prefeito como se nada tivesse acontecido, sobretudo pela insegurança jurídica que uma eventual vitória sua representaria para a cidade. Comigo não. Já apoiei, não apoio mais. Não tenho memória curta e nem passo pano.
Meu avô, Lourival Dias, foi prefeito por três vezes na cidade de Monte Horebe, nunca respondeu por nenhum mal feito com dinheiro público. Entrou rico na política e dela saiu pobre, de modo que seria uma desfeita a memória de vovô, emprestar um voto a um cidadão que não seguisse a sua prática de vida.
Não menos importante, enquanto cantora e compositora, o segundo motivo diz respeito ao trato com a política de fomento à cultura durante a sua passagem pelo governo do estado, no caso concreto do Fundo de Incentivo à Cultura – Augusto dos Anjos e do Edital Linduarte Noronha de Audiovisual, ferramentas de fomento importantíssimas que foram precarizadas e descontinuadas pelas gestões de Ricardo, além da extinção do histórico e memorável Festival Nacional de Artes (FENART), uma super vitrine da nossa cultura para todo país que também foi amordaçada, assim como tantos artistas que, por necessidade, foram aparelhados e precisaram se manterem calados.
Tais absurdos contra a política de fomento cultural, justificam o fato de a Paraíba ter ocupado em 2019, a última colocação no ranking elaborado pelo jornal Folha de São Paulo (https://bit.ly/3jVJcIq), que detalha o gasto per capita em cultura. Tomando por base no orçamento de 2018, o “pib cultural” per capita da Paraíba foi de inexplicáveis 3,2%, o que é um lástima para um estado que respira cultura. Não é a toa que o nosso capital humano criativo quase sempre tem que migrar para o eixo Rio-São Paulo, ou, brigar por espaços em alguma produção pernambucana.
Parte da culpa por este resultado tem a ver com o modelo de gestão adotado pelo governo deste Senhor, que aplicou a lógica da concentração do orçamento para execução de obras e na pulverização de pequenas produções realizadas pelos órgãos estatais; negligenciando o repasse de recursos para editais de projetos culturais independentes e de circulação da produção cultural para âmbito regional e nacional, destruíndo o planejamento anual de toda uma cadeia produtiva e indo na contramão do que acontece em todos os estados da federação. A outra parte da culpa é de nós mesmos, artistas e produtores culturais, quando não entendemos que cultura e economia criativa são partes vitais da estratégia de desenvolvimento econômico do país, do estado e da cidade e emprestamos o nosso apoio de forma voluntária a determinadas candidaturas por mera identificação narrativa, afetiva e/ou ideológica. Relegando a segundo plano o comprometimento destes candidatos com ações claras e objetivas para construção de uma política cultural que, entre outras coisas, garanta investimentos para projetos e autonomia aos profissionais da cultura.
Cultura não é – e nunca deveria ser – um aparelho para projetos de poder de nenhuma vertente ideológica. Ponto.
A campanha mal começou e a prática tóxica das fake news, pós-verdade e da manipulação de fatos já está tomando conta do debate eleitoral. E, pelo que parece, essas armas não se restringem apenas a determinados extremistas que temos visto neste país. Na verdade, todos os lados usam e abusam e a ética que se exploda.
Solicito ao estimado jornalista Tião Lucena, que postou o vídeo, que por gentileza o remova, para que evitemos uma solução judicial. Como já frisado, não autorizei a vinculação de minha imagem à nenhuma candidatura, muito menos a essa. Aproveito para dizer aos candidatos e candidatas à prefeitura de João Pessoa que entrarei em contato com suas assessorias convidando a todos (e todas) para participarem de lives que farei em meu instagram para conversarmos sobre suas propostas para a cultura da nossa cidade. É o mínimo que posso fazer para ajudar aos meus seguidores que votam em João Pessoa, a decidirem melhor seus votos. O tempo de manipulação acabou!
João Pessoa, 13 de outubro de 20 20.
Myra Maya Cantora e Compositora’
Portalpatos
Fonte: Wscom