A cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSol-RJ), aprovada por 13 votos favoráveis e 5 contrários no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, intensificou a pressão sobre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). A rapidez no andamento do processo chamou a atenção de especialistas, militantes e parlamentares do partido, que questionam as prioridades do parlamento e denunciam uma disparidade no tratamento dado a outros casos de cassação na Câmara
Na quinta-feira, a deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP), que também é esposa de Glauber, criticou a desproporcionalidade das decisões e cobrou Motta para que ele paute a votação sobre a cassação de Chiquinho Brazão (União-RJ), preso desde março de 2024 como suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.
"É absolutamente desproporcional a pena de perda de mandato. Temos parlamentares, como Chiquinho Brazão, preso há mais de um ano, e até hoje o plenário da Câmara não teve a dignidade de pautar sua cassação," declarou.
Antes da votação de Glauber, na terça-feira, o presidente do parlamento chegou a se reunir com parlamentares do PSol e indicou que, "em breve", pautaria o Caso Brazão, como tentativa de equilibrar as decisões do parlamento.
Greve de fomeO próprio Glauber Braga, que desde o início do processo já denunciava perseguição política e autoritarismo na condução dos trabalhos, reagiu com um protesto e permaneceu no plenário 5 da Casa, passando a dormir no local, dando início a uma greve de fome, vigente até o fechamento desta matéria.
O deputado, de acordo com a assessoria, estava ingerindo somente líquidos e foi assistido pelo Departamento Médico da Câmara com aplicações de soro e atendimentos periódicos.
Ismael Lopes, amigo pessoal de Glauber, denunciou que o parlamento estaria "usando de manobras" para viabilizar a votação no Conselho de Ética. Ele relatou que a abertura da Ordem do Dia, que normalmente começa às 16h das quarta-feiras, foi segurada até 18h30, o que permitiu o encerramento do processo de cassação de Glauber no Conselho.
"Ficou muito claro. Sempre interrompem as votações para começar a Ordem do Dia no plenário, mas nesse dia isso não ocorreu," disse Lopes.
Para o cientista político Valdir Pucci, a situação no parlamento evidencia a polarização política que domina o país. Ele criticou a falta de sintonia da Câmara com as demandas da sociedade.
"As prioridades da Câmara não estão em sintonia com as prioridades e os problemas essenciais do Brasil. Cabe ao presidente Hugo Motta fazer um freio de arrumação nessa questão," opinou.
Caso BrazãoAcusado de mandar matar a vereadora, segundo investigação da Polícia Federal, o nome do deputado surgiu por intermédio de delação premiada de Ronnie Lessa, ex-policial militar do Rio de Janeiro e autor confesso do assassinato de Marielle e de Anderson. Segundo Lessa, disputas por terra na zona oeste da capital fluminense motivaram o crime. Marielle fazia resistência a um projeto de lei que tinha como objetivo regularizar condomínios na região.
Em 16 de março, o pedido de cassação do deputado Chiquinho Brazão completou 200 dias paralisado na Câmara dos Deputados. Cabe ao presidente da Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos), definir a data de análise do pedido protocolado pelo Psol em março de 2024.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou, em agosto passado, a perda do mandato do deputado. Embora esteja preso desde março de 2024, Chiquinho mantém 24 assessores ativos e a verba mensal de seu gabinete somou R$ 124 mil no ano passado.
A diferença no ritmo e tratamento dado aos dois casos alimenta o debate sobre prioridades, parcialidade e justiça na condução dos processos de cassação na Câmara dos Deputados.
O assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (Psol), e do motorista Anderson Gomes completou 7 anos no dia 14 de março.
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Fonte: Correio Brasiliense