TATIANA CAVALCANTI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sidney Magal completou 70 anos em junho sem a festa e a alegria características de sua personalidade, por causa do isolamento social imposto pelo novo coronavírus. No lugar, ele ganhou de presente “Me Chama Que eu Vou”, um documentário que conta a história de sua vida e de seus 55 anos de carreira, que será exibido nesta quarta-feira (23), às 20h30, no Canal Brasil, dentro do 48º Festival de Gramado.
Com direção de Joana Mariani, o filme retrata Sidney de Magalhães desde a infância até ser alçado à fama nacional como Sidney Magal, símbolo sexual com estilo e rebolado latinos, nos anos 1970.
De sua casa em Camaçari, na Bahia, onde mora com a família há 22 anos, o próprio cantor fala, em 70 minutos, sobre a relação carinhosa com a mãe, Sônia, o incentivo na arte do primo de segundo grau Vinicius de Moraes, o casamento feliz com Magali West, que dura 41 anos, os filhos, o sucesso estrondoso, o ostracismo e a volta por cima com a canção que dá nome ao documentário, que foi abertura da novela “Rainha da Sucata” (1990), da Globo, onde também atuou como ator.
Em uma carreira paralela à música, o cantor ainda fez outras novelas, como “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (Rede Manchete, 1990), filmes como “Amante Latino” (1979) e “Jean Charles” (2009), e até foi dublador em longas como “Happy Feet” (2006 e 2011).
“É cômodo e prazeroso falar do documentário. A Joana me acompanha há muito tempo, a conheci no clipe do ‘Tenho’, e a amizade começou ali. Ela tinha uma grande curiosidade pela minha vida. Quando ela começou a ver o material que guardo de coisas minhas desde 1965, disse que era um arquivo monstruoso, que a maioria não conhece e gostaria de saber. Eu que não sabia se estava com essa bola toda para contar essas coisas para tanta gente”, afirma Magal, em entrevista ao F5.
Mas o artista foi convencido por Joana quando ela disse a ele que queria mostrar a maneira carinhosa como o cantor age no dia a dia, no trato com os fãs e como ele fala da sua mãe, que o incentivou na carreira e até virou cantora após o sucesso do filho único.
“Aí falei: ‘seja feita vossa vontade’, e permiti que ela fizesse [o documentário], desde que tivesse a minha cara, porque sou muito transparente e meu público me conhece muito”, diz Magal.
A diretora conta que aproveitou quando o cantor completou 50 anos de carreira para dar início ao projeto, mas que não gostou do resultado. “Quando ficou pronto, sentamos para assistir e decidimos que não estava bom. Voltamos atrás para contar outra história. Foi aí que decidimos ir para a Bahia e entrar na vida dele. Eu acho que foi isso que deu charme ao filme”, diz Joana.
“Claro que a história pregressa dele é maravilhosa. Muita gente não conhece. É a vida dele, como virou Magal. O filme é ele, mas também uma figura artística diferente do que ele é [no dia a dia]. Acho que tudo acaba se misturando”, diz a diretora.
O cantor afirma que recebeu com alegria a notícia de que o filme sobre sua vida havia sido incluído no tradicional festival de cinema em Gramado. “Jamais imaginei que um filme sobre Magal chegaria a um festival. Nunca pensei que seria homenageado assim em vida. Não tenho a pretensão de levar uma estatueta, mas temos que torcer. Penso em participar, ser aplaudido e agradar às pessoas”, conclui Magal.
SANGUE FERVE POR VOCÊ Joana Mariani é, ainda, produtora de “Meu Sangue Ferve Por Você”, filme que vai dramatizar a vida de Sidney Magal, que será vivido por José Loreto. O longa começaria a ser gravado no primeiro semestre, mas teve os planos interrompidos pela pandemia. “A ideia é voltar logo, no que depender da nossa vontade. Mas só faremos isso quando tivermos certeza que é 100% seguro”, afirma Joana.
O cantor aprova Loreto para viver Magal no cinema. “Tinha pessoas que diziam que ele não se parecia muito comigo, as pessoas cobram esses detalhes, como se a Hebe tivesse sido representada por uma atriz [Andrea Beltrão] que era a cara dela”, afirma. “Eu gosto que as coisas aconteçam muito naturalmente. Para mim, tenho uma coisa: esse ator gosta de mim, me curte e sempre me olhou com bons olhos? Então já tem 50% de crédito, porque essa pessoa vai me entender, me absorver, então, com certeza ele vai tirar o melhor de si em minha homenagem. E, nesse sentido, eu acertei.”
Magal conta que encontrou Loreto em um show em São Paulo, quando o ator foi até o camarim. “Ele estava radiante, muito empolgado e feliz pelo convite, se entregando mesmo. Ele só falou que não sabia se ia conseguir dançar como eu, disse que não era maleável, que não tinha aquele meu lado feminino. Eu respondi: ‘você não tem como o meu, porque o meu [lado] é muito forte, de homem, de mulher [risos]. Sei que ele vai tirar o melhor de si. Ele vai copiar a minha voz, que é meu carro-chefe, da forma dele.”
Segundo Magal, atores como Luís Miranda, Giovana Cordeiro, Emanuelle Araújo e Matheus Nachtergaele estão cotados para o elenco. “Precisa esperar a pandemia passar para ver quem vai topar. Eu quero que as pessoas se realizem através da minha realização.”
VIDA TRANQUILA NA BAHIA Sidney Magal decidiu deixar o Rio de Janeiro há 22 anos, após sofrer dois assaltos. Ele, sua mulher, Magali West, e os três filhos do casal se mudaram para Camaçari, cidade perto de Salvador (BA). Hoje, o cantor se descreve como um homem simples e “muito caseiro”, que cuida dos quatro cachorros golden retriever, de dois gatos, de uma calopsita e de 15 periquitos.
“Encontrei um lugar de-li-ci-o-so. Tem de tudo: coqueiro, praia, areia, mar, animais como micos e papagaios vivendo soltos. Eu gosto de viver assim. Sinto que vou ficar aqui [na Bahia] pelo resto da minha vida”, diz o cantor. “Eu me identifico com tudo aqui.”
O artista diz que o documentário “Me Chama Que eu Vou” vai narrar os 70 anos de Sidney de Magalhães e os 55 anos de carreira de Sidney Magal, nome artístico que adotou durante turnê na Itália, quando os fãs estrangeiros não conseguiam pronunciar seu sobrenome e sugeriram que ele o cortasse pela metade.
“Eu nasci antes do Magal e aprendi a ter um respeito muito grande pelas coisas que eu fiz, desde que elas me respeitassem”, diz. “Como essa criação do Sidney Magal foi um personagem que todo mundo adora, e eu adoro, eu queria que ele me respeitasse também. Para isso, ele precisava me deixar viver a vida como um ser humano normal e feliz. E eu consegui isso.”
Ele diz, ainda, que é Magal quando está com o público, em cima do palco, no teatro, ou na televisão. “Mas quando eu desço as escadas, eu me dispo do Magal para ser um homem bastante comum, que é o que acho que todos nós precisamos, dessa coisa vulgar do ser humano para nos descobrirmos, porque se for para ficar na fantasia, basta aquela que uso no palco.”
Para falar da pandemia, ele diferencia o personagem do homem real. “Para o Magal, mudou muita coisa, porque assim que aconteceu a pandemia, tive que cancelar 25 shows e adiar por um tempo indeterminado. Foi um baque violento. Não só pelo contato com o público, que perde totalmente, mas financeiramente, que é muito ruim. O Magal sentiu muito a falta do público.”
Já como Sidney de Magalhães, ele afirma que não tem coragem de reclamar. “Só tenho a agradecer ao grande público todos esses anos de carreira, porque usufruo de uma casa confortável, espaçosa, onde recebo minha família inteira com conforto desde o início da pandemia. Então, estou bem. Não tive ninguém muito próximo que se contaminou com a Covid-19”.
Para o artista, a pandemia está servindo, não para eliminar pessoas, mas para abrir seus olhos e para darem mais valor à vida. “Então, estou muito feliz de estar aqui com minha neta de dez meses, meus três filhos saudáveis, minha mulher rindo e brincando.”
Depois que a pandemia passar, o artista diz que pretende voltar a fazer shows e que tem planos de emagrecer. “Porque a pandemia provocou isso, né, a gente só come e bebe o dia inteiro. Então, estou preparando uma dieta, emagrecer um pouquino. Não sou de fazer muito exercício, mas tenho uma voz possante, que continua apesar da idade.”
O cantor diz que, se as casas de show tiverem agenda, pretende retomar os shows cancelados em novembro ou dezembro, se for seguro. Sempre temos muitas novidades.”
O artista, porém, admite que não é fã de shows ao vivo no formato drive-in. “Eu tenho uma antipatia pelos shows drive-in. Eu acho que foi uma forma de os artistas continuarem se apresentando, chamando a atenção de alguma maneira.”
Ele fala ainda que a proporção do público, que ele considera essencial para “esquentar” o show, não leva o mesmo número de pessoas. “Meu show no Espaço das Américas, por exemplo, levou 7.000 pessoas. Um drive-in dificilmente vai comportar tudo isso. Então, [o drive-in] vai continuar sendo um pouco frio. Essa ideia não me deixa muito entusiasmado. Se eu tivesse que fazer, faria. Mas prefiro que tudo isso passe rapidamente.”
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Fonte: Folhapress